Em uma cidadezinha do interior, dona Ambrosina Alcoviteira da Silva, que era uma tremenda fofoqueira, encontrava-se muito curiosa. Ela havia reparado que pelo menos uma vez por semana ao anoitecer as luzes de um sobradinho em frente a sua casa ficava piscando. Então comentou com uma vizinha:
- Esmeraldina eu não entendi o porquê das luzes do sobrado de seu Anacleto piscarem tanto ao anoitecer.
Dona Esmeraldina Tarada Duarte que também não ficava para trás em matéria de “comentar sobre a vida alheia, prontamente respondeu:
- Ué, amiga, eu nunca notei... Quem é seu Anacleto?
- Esmeraldina você sabe da vida de todo mundo nessa cidade e não sabe quem é o seu Anacleto Caido Pinto? Anacleto é aquele velho caquético que fala pelos cotovelos.
- Olha como fala, hein, Ambrosina... Eu não sei da vida de ninguém nessa cidade. Agora...a senhora é que fica reparando em tudo que é pisca-pisca por aí. Além do mais, lembrei, sim, quem é esse homem.
Então, murmurou baixinho:
- “Ah, que homem”... É aquele que tem um lindo cavanhaque branco. E aquela barriguinha de chopp? É demais... Tem também umas canelinhas finas e lisas. Adoro! Sabe, noutro dia ele me deu carona.
- Esmeraldina você está delirando! Disse-me que não conhecia o velho, além do mais, ele não tem carro. Como lhe deu carona?
- Bicicleta, amiga! Peguei carona naquela linda bicicleta azul. Fiquei agarradinha com ele. Não lembrava o nome dele, porque só o chamo de, “meu Rasputim”...
Ambrosina ficou irritada, virou as costas para amiga e saiu dizendo que tinha mais o quê fazer...
- Essa velha está caduca, acho que está apaixonada por aquele velho doido.
Esmeraldina, por sua vez, lembrou-se que tinha um encontro e saiu rápido, afinal, já estava escurecendo. Mais tarde, toda cheirosa, com sainha curta e uma taça de vinho nas mãos, encostou-se à janela e ficou a olhar para o sobrado de seu Anacleto. Quando, de repente, as luzes da casa do seu Anacleto piscaram. Prontamente ela deu duas piscadas na lâmpada da sala e saiu levando a garrafa de vinho.
Naquela noite a esposa do seu Anacleto não havia ido à igreja, porque estavam com problemas de sobrecarga na energia e os disjuntores desarmavam a todo instante. Nesse pisca pisca constante, por causa do defeito, as luzes se apagaram novamente... Então, entra Esmeraldina de fininho pela porta adentro.
O casal encontrava-se na cozinha, no escuro e com velas acesas. Anacleto estava tentando trocar os disjuntores da caixa de energia, quando, sua esposa falou baixinho:
- Velho... Estou sentindo um cheiro de flores de cemitério, misturado com cheiro de vela. Coisa horrível!!! Estou com mau pressentimento...
Foi quando, Anacleto terminou de trocar os disjuntores e acendeu as luzes. Esmeraldina, por sua vez, invadiu a cozinha só de calcinha, com aqueles peitos encostados ao umbigo e a garrafa de vinho nas mãos, dizendo:
- Cletinho, meu Rasputim! Vem que eu sou toda sua...
Anacleto havia esquecido de avisar a Esmeraldina que sua esposa naquele dia não fora à Igreja. Se ele tivesse avisado, mesmo que houvesse o pisca pisca na luz ela não iria lhe visitar é claro...
No dia seguinte, no hospital da cidade, o papo das enfermeiras era:
- Você viu aquele casal de velhos que deu entrada ontem à noite? A mulher chegou com a cabeça quebrada, toda suja de vinho e com um cheiro de perfume muito enjoado. O cara cheio de escoriações e ainda estava entalado com uma vela...
A outra:
- Eu vi... Só não estou entendendo uma coisa. Os dois estão na mesma enfermaria e não largam os interruptores de luz que tem perto de suas camas... Ficam piscando e rindo o tempo todo, um para o outro. Parecem Loucos!
Alexandre M. Brito
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