Havia chegado o dia, aquele que seria um longo e péssimo dia. Um dia que
ficou marcado, porque quando fazemos algo que não nos agrada o tempo custa
muito a passar, e foi o que aconteceu.
Bem, esse também foi o dia "D"... O dia "de" eu ter perdido a
virgindade anal. Não para um pênis, muito menos para o dedo de um médico, mais
sim, para uma "máquina". Máquina essa que nem sabe fazer um carinho
ou muito menos um sussurro ao pé do ouvido.
Neste dia que custou a findar, acordei ou levantei cedo da cama, porque,
de tão tenso não havia conseguido dormir direito durante a noite que passara.
Noite longa, de muitos pesadelos e pensamentos em relação ao que estava prestes
a acontecer.
Era leigo, e o médico não havia me explicado nada
sobre o assunto. Ele havia dito que seria algo parecido com o exame de endoscopia,
só que por trás. Também disse para que eu fosse em jejum. Fiquei muito
nervoso e pensava que pudesse doer ou mesmo gostar. Se doesse, como iria
trabalhar sentado em meu táxi no dia seguinte? E se eu gostasse? Existem
tantos homens que adoram ser penetrados é porque deram pela primeira vez... e
gostaram.
Será que vou virar gay? Pensava
eu.
Então, tomei um bom banho e com uma buchinha que havia comprado na
feira, caprichei na lavagem das partes íntimas. Usei até condicionador de
cabelos e pasta de dentes para que não passasse por nenhum constrangimento de
ter algum, "mau hálito anal”. Até perfuminho passei, mas não sabia que
ardia tanto... Coloquei minha melhor cueca ou pelo menos a que não tinha nenhum
furo, uma calça desbotada e uma camisa de malha apertada com os dizeres,
"Bad Boy", e fui à luta. Nessas horas temos de mostrar o quanto somos
machos, mesmo sabendo que iriam me entubar pelo rabo. Entrei no carro de um
amigo, também taxista, que iria levar-me para aquele lugar
"malditoso". Para meu espanto o cara deu uma sonora gargalhada e
perguntou-me:
- Tu vais fazer o exame pelo umbigo?
Na hora não entendi o motivo da brincadeira, mas depois ele explicou:
- Você está de Baby Look...
É porque às vezes, gosto de tomar umas cervejinhas e minha barriga
está um pouquinho saliente A camisa apertada deixou o bocão do umbigo de fora.
Cheguei à clínica mais nervoso do que já estava, pois virei motivo
de chacota e além de ser esculachado na viagem inteira, também sabia o que iria
acontecer comigo no dia seguinte quando chegasse ao ponto de táxi onde trabalho. Até
porque, conhecia o tamanho da língua desse meu "amigo". Uma atendente
pediu-me que esperasse num quarto e mesmo dizendo que não mais precisava de
companhia, o amigo, insistiu e entrou comigo. Esperei por muito tempo, com fome
e sede, até chegar uma enfermeira e falar que iria começar os preparativos
para o tal exame:
- Toma... Coloca esse roupão aqui e fica sem nada por baixo, depois
o senhor vai beber o líquido dessas três garrafas. Tem que tomar tudo, hein!
Daqui a pouco eu volto pra botar o soro.
- Soro, mas que soro? Ninguém me falou nada de soro.
Apesar de o líquido ser muito ruim, beber até que foi fácil, porque
eu estava com muita sede, mas não sabia o que estava por vir.
Fui colocar o roupão e tive de sair com a bunda encostada na
parede, porque a parte de trás era toda aberta e o meu "mui amigo"
queria tirar fotos de todos os ângulos. O cara além de linguarudo era pior que
paparazzo, gostava de tirar fotos de todos os eventos. Para ele aquilo era um
evento, mas pra mim aquilo era um tormento. Tirou fotos minhas com o roupão,
tirou fotos da enfermeira me esperando para
colocar o soro. Só não tirou fotos quando eu sentava no vaso porque eu trancava
a porta do banheiro. E quanto mais daquele liquido eu tomava, com mais dor de
barriga ficava. E todas às vezes que eu ia ao banheiro, iam dois encostos, o
amigo que estava doido pra pegar um "furo de reportagem" e o pedestal
do soro agarrado em mim. Depois fui saber por outra enfermeira que o exame
só seria na parte da tarde, me mandaram chegar cedo justamente para eu fazer a
preparação. Disse-me também que nem o anestesista havia chegado.
- Anestesista, mas que anestesista, minha senhora? Não me falaram nada sobre
anestesista.
- Você vai dormir. - disse ela.
O tanto que fiquei aliviado por tudo que foi falado, referente ao
medo de doer, de gostar e dos pesadelos, foi o quanto fiquei preocupado com
aquela terrível notícia. Afinal, já havia escutado alguns casos de morte por
anestesia.
O amigo se despediu dizendo que voltaria na parte da tarde pra me
pegar. O que foi um grande alívio, afinal, não precisaria mais me arrastar
pelas paredes. Só que ficou um vazio muito grande, os pensamentos não paravam e
achei que fosse morrer após tomar a anestesia. Peguei o celular e comecei a
mandar torpedos de despedida pra toda a família e a alguns amigos. Disse a todos
que os amava, e o pior, disse a um amigo que era muito grato pela sua amizade e
que não precisava mais pagar o que me devia. Ninguém entendeu nada... Só não
consegui me despedir da sogra, porque quando fui digitar, o médico entrou
esbaforido pelo quarto adentro. Até levei um susto, mas ele foi logo dizendo
que não havia chegado a hora de fazer o exame e que ainda tinha outros pacientes
na minha frente. Depois perguntou-me quantas vezes eu havia ido ao banheiro.
- Doutor eu não contei, mas acho que já fui umas dez vezes.
- É pouco, vou chamar a enfermeira.
Não entendi o motivo de ter que chamar a enfermeira, achei que
fosse pra trazer mais garrafas daquele purgante horroroso. Minutos depois escutei
umas batidinhas na porta e logo entra uma enfermeira que eu ainda não
conhecia. Uma mulher muito bonita e delicada, só que, com outro tipo de garrafa
em suas mãos, parecia uma bisnaga. Tive um pressentimento que algo de ruim
estava pra acontecer, mas ao mesmo tempo, estava enfeitiçado com tamanha beleza
daquela enfermeira. Uma beldade!!! Então, ela me falou:
-Vira o bumbum... O senhor vai ter que tomar uma lavagem.
- O quê? Que negócio é esse de lavagem? Não preciso de mais
lavagem... Já lavei tudo muito bem, tanto aqui, quanto em casa. Até
condicionador, pasta de dentes e perfume eu passei.
- Não é por fora, meu senhor. É por dentro...
- Nem pensar! Quem mandou você fazer isso? Eu quero falar com o
médico.
- Quem mandou foi o próprio médico e agora ele está ocupado.
Fiquei arrasado e constrangido, além dela me chamar de senhor, me
enfiou aquele troço gelado por trás, não dando nem tempo de correr para o
banheiro, sujei a cama toda. Por sorte, meu amigo não estava, porque senão
iria tirar mais fotos. Ali, sim, seria um excelente, "furo de
reportagem". Fiquei até depressivo, quase vesti as roupas para ir embora,
mas aguentei firme, concentrei-me, rezei e fiz até uma autoajuda em
pensamentos. Foi o que me consolou de lembrar que Gays ou mesmo mulheres, às
vezes ficam a vida inteira com homens ou maridos que tem seus pênis enormes. Não
reclamam nunca, pelo contrário, gostam. Fiquei envergonhado, afinal, estava com
medo de um simples tubo de uma máquina ou de um computador, sei lá... Ou até
mesmo de uma simples bisnaga, que já havia me feito defecar a cama inteira.
De repente, entraram dois homens com uma maca e falaram:
- Vamos lá, chegou tua hora.
Do jeito que eu estava pra baixo, achei que já estivesse morto.
Chegou minha hora de que, de ser enterrado? Pensava eu... Mas ainda tive forças
pra reclamar.
- Pô, vocês não sabem bater na porta, não? E se eu ainda estivesse de bruços? E para que essa maca?
- Desculpe-me, senhor... Essa maca é para levá-lo à sala de
cirurgia.
- Não preciso de maca... E por incrível que pareça, ainda estou vivo e
andando, além do mais, eu não vou pra sala de cirurgia, até porque não vou fazer
cirurgia alguma. Só vou fazer aquele exame, que enfia... ou melhor, aquele
exame que parece uma endoscopia.
- São normas do hospital, o senhor tem que ir de maca... E para
sala de cirurgia, sim, porque acidentes acontecem e os seus intestinos podem
ser perfurados.
- Aiii, meu Deus!!! Cadê o médico, cadê o meu amigo???
Fiquei mais perdido do que cego em tiroteio, mas tive de deitar na
maca. Levou uma eternidade para que chegássemos à sala onde seria feito o
exame. Até chegar lá, eu só conseguia ver as luzes do teto e a cara dos
carrascos. Depois de passarmos por vários corredores e um elevador chegamos ao
local. Por fim, o anestesista, me fez algumas perguntas e também me disse que iria aplicar uma injeção, assim, logo apaguei, saí do ar... Dali
para frente não vi mais nada e também não esperava que o exame fosse tão
tranquilo. Não senti nada, não vi nada e ainda tirei um sono muito gostoso.
Na realidade acho que aquilo nem era anestesia, e sim, um "Sossega
Leão". Um relaxante muito forte que nos faz dormir. Ao término do exame, logo que acordei, o médico me disse que estava tudo bem e que o único problema que tiveram foi com os
barulhos. Então, curioso como sou, perguntei-lhe:
- Mas que barulhos foram esses, doutor?
- Rapaz como ainda tinha gases ai dentro e como tu roncas, hein!!!
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