O enterro do seu Manoel da Birosca iria ser na parte da tarde, mas o povo desde cedo encontrava-se em seu velório. Dona Maria Bigorna, sua esposa, era adepta de um bom prato e não ficava sem uma birita. Logo que seu marido faleceu ela encomendou bastantes bebidas e salgados, e malandramente, divulgou para seus fregueses. Os “amigos” e frequentadores da birosca do senhor Manoel, sabendo disso, lotaram o velório daquele bondoso senhor. Estavam muito empolgados, afinal, nunca tinham visto um enterro tão festivo e regado a comes e bebes. Porém estavam “preocupados” pela demora da, senhora Bigorna, então, seu Alair do Pé Inchado, comentou com seus amigos:
- Cadê dona Bigorna que não aparece, hein? Tô cheio de sede e ela está demorando muito...Onde será que ela se enfiou?
- Do jeito que ela bebe, esse velório vai ser uma festa. – Falou Biricutico empolgado.
- É, amigos eu já fui lá no bar tomar uma e fiquei duro, tive de pagar a vista. Que falta o seu Manoel faz, não é mesmo pessoal? Com ele a gente pendurava. – Disse seu José Du Calote.
Na realidade ninguém pagava nada ao seu Manoel, o enrolavam sempre. Dona Bigorna sabia e se estressava muito com eles por causa daquilo. Depois que a metade da clientela encontrava-se de porre e a outra ainda estava nos bares dos arredores, chegou Dona Maria Bigorna, chorosa, mas com os salgados e as bebidas que prometera... Estava acompanhada dos seus cinco filhos: Pedrão do Bope; Paulão Senta a Pua; Marcão Tijolada; Ricardão Capoeira e Serginho Mengão, da “torcida raça rubro negra”. De repente o velório lotou, parecia que tinham vindo pelo cheiro dos salgados e das bebidas... Conversa vai, conversa vem, João Deprê ao ver os filhos do seu Manoel, comentou com os amigos:
- Eu estou com um mau pressentimento, não devia ter voltado lá do bar.
- Está maluco? Você iria perder esse tremendo velório? Relaxa e toma mais um copo, pelo menos aqui é de graça... E a nossa dívida com Seu Manoel também acabou, ele morreu... Vamos comemorar, minha gente! – disse Enfadonho Talagada.
- Fala baixo... Nós não estamos comemorando nada. Você já está bêbado? Viu o tamanho dos filhos dele? – falou Deprê.
- Vi, sim, e daí? Vai dizer que também não posso dizer que sou Vascaíno? Vascooo, Vascooo, Vascooo... – respondeu Talagada.
Todos rapidamente saíram de perto de Talagada, porque sabiam da fama dos filhos Flamenguistas do Seu Manoel.
Mais tarde, após estarem todos de barriga cheia e de ter rolado muita bagunça, inclusive, quase derrubaram o caixão, os filhos de Dona Maria Bigorna amontoaram-se na porta e não deixaram que mais ninguém saísse. Seu João Deprê ainda tentou escapar e disse que queria ir ao banheiro, mas Ricardão Capoeira não deixou... Alegou que a oração já iria começar e queria que todos ficassem, porque sua mãe faria uma homenagem a seu pai. Então, Anastácio Dupó Traçado da silva, perguntou ao Deprê:
- O que houve, você está com cara de preocupado?
- Ai, meu Deus do céu... Vai acontecer alguma coisa de ruim e eu estou apertado para ir ao banheiro. Eu devia tão pouco ao Seu Manoel... Só uns mil reais.
- Por que você está falando isso? A dívida agora acabou... Olha, parece que Dona Bigorna vai começar com a homenagem.
Dona Maria Bigorna, após pedir a palavra, pegou na bolsa um caderno com uma lista imensa de fiados e declamou:
- Tenho a certeza de que o meu Marido faleceu por causa disso aqui...
Seu José Du Calote jogou-se pela janela que era no quinto andar, caiu em cima do roseiral... Se furou e se quebrou todo, mas conseguiu escapar. Todos juntos começaram a rezar, uns até a chorar, mas ela firme continuou:
- Manoel se vivo fosse iria gostar de ver o que vai acontecer agora...
Seu Deprê teve um ataque de histeria, mas ela não ligou.
- Nesse caderno consta o nome de pessoas que diziam ser nossos amigos e principalmente do Manoel...
Enfadonho Talagada, Biricuticu e mais umas dez pessoas tiveram um mal súbito. Anastácio Dupó que encontrava-se ao fundo, mesmo sendo procurado da justiça, preferiu pegar o celular e ligar para polícia. Falando baixinho, disse que iria se entregar, mas que viessem logo.
E Dona Maria continuou:
E Dona Maria continuou:
- Pessoas que só vieram aqui, por interesse na bebida e na comida, onde, não vi uma lágrima se quer...
- Olha meus olhos, Dona Bigorna, vermelhos de tanto chorar. Por sinal, esse enterro sai ou não sai? – perguntou seu Ataláio Jurubêbo
- Seus olhos estão vermelhos por causa da cachaça, seu Ataláio. O Senhor está chorando agora, não sei porque motivo...
Nesse chove e não molha, nessa lengalenga, Dupó, olhou pela janela e gritou:
- A Polícia vem aí!!!
Os filhos de Dona Maria sumiram, foi um corre-corre generalizado, gente rolando pela escada, gente se escondendo atrás do caixão e o Anastácio Dupó indo em cana.
Mas tarde, após o enterro, um coveiro comentou com o outro:
- Eu nunca vi um enterro tão vazio, só tinha a viúva. Esse cara devia ser muito ruim.
- Eu não entendi, o velório estava cheio de gente, mas ninguém quis assistir ao enterro. A viúva ficava o tempo todo falando ao Marido que fez as suas vontades... Deu uma festa em seu velório, não brigaria mais com seus amigos e nem iria mais cobrá-los as dívidas. Ela também falou que não entendeu o motivo do tumulto, porque só queria dizer-lhes umas verdades. E que não sabe porque os filhos também sumiram.
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