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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A INAUGURAÇÃO DO FORNO DE MICROONDAS



#A INAUGURAÇÃO DO FORNO DE MICROONDAS#

      Na favela do "Chapadão Queimado" a comunidade encontrava-se em estado de alerta, afinal, naquela noite haveria uma tremenda confraternização com o pessoal do "bagulho doido". Seria a inauguração do forno de microondas... Haviam roubado uma carreta repleta de pneus de caminhão que serviria para manter por um bom tempo a chama do forno acesa.
O mais importante é que depois de muitos anos conseguiram capturar aquele que seria o primeiro presunto ou a primeira vítima. Pegaram simplesmente a pessoa que mais atrapalhava os planos da quadrilha, X9 o alcaguete, esse era o cara.
Depois desceram o morro e roubaram outra carreta, só que essa com cervejas e refrigerantes. Mais tarde teria queima de fogos e salva de tiros por causa daquela comemoração tão importante.
O dono do morro chamava-se, Inocêncio Coitadinho Sossegado, vulgo, "Sossega Leão". Sossega Leão encontrava-se feliz que nem pinto no lixo, com sorriso de orelha a orelha e falava em alto e bom tom, que aquele dia seria muito importante pra ele e para as pessoas da comunidade e também que elas poderiam comer e beber de graça a noite toda. E mais, a partir daquele dia os moradores seriam muito beneficiados com: a diminuição do ágio na compra do gás; desconto na compra de drogas e não mais precisariam pagar pedágio quando fossem para suas casas. Parecia político em época de eleição:
- Quem diria. – dizia ele.
- Quem mais atrapalhou nossa inauguração, hoje vai inaugurar o forno. Ninguém atrapalhará, ninguém o salvará.
Sossega Leão encontrava-se muito eufórico porque o tal do X9, sempre abria o bico e a policia chegava antes de qualquer maldade que eles pudessem aprontar. Vários e vários planos jogados no lixo. Quantas vezes tentaram inaugurar o microondas e a policia sempre chegava antes mesmo que eles subissem o morro com suas vítimas. Então, Navalhada, comentou:
- Aí, mano, vou te mandar uma letra. Como pode uma comunidade que nem a nossa e com "nós" na fita não ter tido nenhuma morte, nenhum presunto pra contar história, nenhum crime durante dois anos?  É o tempo que estamos aqui.
- Foi aquele Mané que atrapalhou "nós", mas daqui pra frente tudo vai ser diferente. – respondeu Sossega Leão.
- Isso é letra de música, meu! Se liga, você anda escutando muito as músicas do Rei Roberto Carlos. - falou Navalhada.
- Oh “rapá”, eu gosto é de funk. Tá me “tirano”, cara? – irritou-se Sossega Leão
- Não tá mais aí quem “falô”, sem stress.
- Bem, vamos ao que interessa. Vocês já separaram os pneus? Nós vamos colocar os pneus devagarinho, um a um por cima da cabeça dele até envolvê-lo todo. Depois vamos acharcá ele de álcool. O safado vai gritar feito um carneirinho e morrer que nem um torresminho, torradinho! Então, vamos para a quadra...
Na quadra a festa já estava armada, tinha comes e bebes, tiros para o alto e muitos fogos.
- Daqui a pouco “nós” bota fogo nele. Vamos fazer um churrasquinho de X9. Uma salva de tiro aí, pessoal!!! Vamos comemorar! O Feioso me trás mais uma rodada de bebida... – disse o bandido mor.
- Patrão esse arrasta-pé está bom demais, já tomei todas. – falou outro bandido, o "Pé Inchado"
- "Pé Inchado" se prepara ai que daqui a pouco “nós” torra ele. – falou o patrão também enrolando a língua.
A festa rolou até tarde da noite e os bandidos encheram a cara de birita e de bagulho, ficaram pra lá de Bagdá e foram deixando a inauguração sempre pra depois.
- Aaaacho melhor “nós” queeeimar esse cabra amanhã. – falou Navalhada.
- Ué, logo você que estava reclamando, dizendo que não tínhamos feito nenhum presunto? Vamos queimar esse cabra é hoje mesmo. E vai ser agora... Vai lá e me traga o safado. – disse Sossega Leão já muito doido.
- Mas, mas chefe, onde é que ele está? - perguntou um dos bandidos.
- Como assim, onde é que ele está? Onde vocês enfiaram o homem seus Energúmenos? - perguntou o chefão.
- O Pato Roco é quem escondeu ele. - falou um outro bandido.
- Cambada de incompetente, cadê o Pato Roco?
- Chefe, chefe... O Pato Roco está dormindo lá no meio do mato, bêbado que nem um gamba!
- Acordem ele, seus jumentos, e tragam ele aqui. - falou o todo poderoso.
- Acorda Pato! Pato Roco acorda!
- Enfia a cabeça dele naquela poça d'água que ele acorda.
Demorou um pouco pra ele acordar, mas depois de algumas tapas na cara e quase ser afogado na poça ele acordou.
- Ah...O que? XXX9 que mané X9? Eu sei lá de X9. - disse Pato Roco.
- Como não sabe? Tu vai morrer, seu desgraçado!
- Pe...pera ai...deixa eu lembrar.
- Fala logo. Onde você enfiou o sujeito?
O dia já estava clareando quando Pato Roco lembrou qual barraco havia enfiado o Réu já condenado. Pegaram o cara todo amarrado, com os olhos vendados, de dentro do barraco e foi com enorme dificuldade que conseguiram chegar ao ponto mais alto do morro. Afinal já estavam todos bêbados e drogados. O puseram em pé e começaram a enfiar pneu pela sua cabeça. O sujeito apavorado chorava e dizia ser irmão de Inocêncio o "Sossega Leão".
- Que "mané", Inocêncio?! Teu irmão deve ser um Baitôla, uma gazela... Do jeito que você berra parece até um carneirinho. - disse um dos marginais rindo pra valer.
Jogaram álcool em sua cabeça e nos pneus, quando iam acender o fósforo, Inocêncio, o dono do morro, pediu-lhes que tirassem a venda dos olhos do inimigo, afinal, ele queria saber quem era o traíra que tanto o prejudicou. Foi quando o motivo do seu espanto:
- Meu irmão?! Esse é meu irmão que estava pra chegar do interior do Ceará. Vocês iam fazer churrasquinho do meu irmão. Cambada de imbecis! E quem me chamou de baitola e gazela ai? Eu vou matar vocês todos.
Quando olhou a sua volta já não havia mais ninguém, os caras rolaram morro abaixo tamanho medo do chefe. Naquele momento apareceu um helicóptero blindado da polícia, a mando do X9 original, dando um voo rasante em suas cabeças e mandando tiro pra todos os lados. O "caveirão" que vinha subindo pegou a bandidagem toda, porque eles não aguentavam correr de tão bêbados e feridos que estavam. Por azar, de onde despencaram ainda havia uma cerca de arame farpado.
Mais tarde na delegacia.
- Aí, Mano, ainda bem que o "caveirão" chegou, porque senão quem estaria torrado e frito seríamos nós. O "Sossega Leão" não iria perdoar "nós" nunca. Estaríamos nessa hora todo fu... e mal pago. - disse um meliante.
Também na prisão, conversando com o irmão, Inocêncio, disse:
- Anda não foi dessa vez que pegamos o safado do X9 e nem inauguramos o forno, mas quando eu sair daqui a festa vai ser ainda melhor. Vamos ter uma inauguração coletiva...









Alexandre M Brito
Enviado por Alexandre M Brito em 09/03/2011
Reeditado em 09/06/2014
Código do texto: T2836601 
Classificação de conteúdo: seguro

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